quinta-feira, 12 de novembro de 2015

A Esperança

(A propósito da queda do XX governo, o segundo de Pedro Passos Coelho, em virtude de uma moção de desconfiança apresentada pelo PS. Publicado no Facebook)


Gostando ou não do episódio político que acabámos de viver, concordando ou não com o seu desfecho, não há dúvida de que este foi um momento histórico, por muitas e diversas razões. E olhem que nem sempre nos é possível viver um momento histórico ou perceber a sua passagem. Alguém disse que cada geração vive o seu momento histórico peculiar. Eu, que já estou no terço final da vida, posso dizer que vivi alguns. Assim de memória, três de carácter público e três de carácter privado. Em todos eles, experimentei estados de alma diversos, mas mesmo nos vividos com mais angústia, no final experimentei a verdade da Escritura: “todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus”. E descobri pelas experiências vividas que por mais angustiante que uma situação possa ser, que por mais vencidos que nos deixemos levar pela angústia que perfilharmos, a esperança fica sempre à espera que a abracemos e a tornemos nossa. Por isso, não posso deixar de me admirar (ainda me vou admirando) por ver tantos que defendem e proclamam a melhor mensagem de esperança que o mundo jamais conheceu, virem à liça com um discurso catastrofista. E repito o que costumava dizer: ou somos ou não somos. Se somos, então sejamo-lo em cada circunstância e não apenas quando só conseguimos ver o sol a brilhar. É que por vezes, o sol que queremos ver brilhar não passa do reflexo encadeante do espelho das nossas ilusões.

domingo, 9 de novembro de 2014

A Consulta

Hoje é um dia especial para a Catalunha. O povo vai ser consultado para declarar se está interessado em viver numa Catalunha independente. Todos sabemos que o reino de Espanha é um conjunto de diversas nações, entre elas, a nação catalã. A união de Castela e Catalunha é resultado do casamento de Fernando e Isabel, dando início a um período de ouro da história do país vizinho que, após a conquista de Granada conseguiu criar o que é conhecido hoje como Espanha. O sonho de uma Ibéria unificada, sob um mesmo governo central esteve sempre presente em todos quanto detiveram o mando, recriando o velho Império visigótico desfeito com a invasão das tropas muçulmanas, comandadas por Tariq, no século VIII, mais concretamente em 711. Esse sonho também alimentou os desejos da coroa portuguesa, mas quem conseguiu a sua concretização foi Filipe II de Espanha, o primeiro de Portugal. Em 1640 a coroa espanhola teve de fazer frente a duas revoltas secessionistas em ambas as costas dos seus domínios ibéricos – em Portugal e na Catalunha. O lado atlântico recuperou a sua soberania, mas os Catalães foram dominados. Por esta breve e incompleta resenha, se percebe que o sonho independentista catalão nunca esmoreceu, mesmo em períodos de repressão da sua nacionalidade como ocorreu durante o franquismo. Mas o advento da democracia burguesa após a morte do caudilho e a solução encontrada pelo governo central espanhol das autonomias abriram o caminho para que o sonho recalcado ganhasse novo ânimo. E a pouco e pouco, com o reforço continuado da autonomia, os Catalães admitem ter chegado a hora de se pronunciar e de afirmar quererem seguir um caminho autónomo, livre da tutela de Madrid. Claro que quem detém o mando não gosta de abrir mão de nenhuma parcela dos seus domínios. Madrid não foge à regra e tudo fez para que a consulta não se realizasse. Mas se defendemos a ideia de democracia, então, o povo tem o direito (ou terei de dizer o dever?) de se fazer ouvir. Pelo que se ouve, não é difícil adivinhar o resultado da consulta que irá em sentido oposto ao do referendo na Escócia. Não sei (não sou futurólogo) como vai ser o day after nem discuto se a consulta (ou uma opção pela independência e sua futura concretização) será benéfica ou não para Espanha e para a Europa. O que sei é que um sonho acalentado de séculos dificilmente morre e dificilmente, também, não se concretiza. Resta esperar que os agentes e actores políticos tenham a percepção de que nenhuma posição extremada produz bons frutos. Não deixa igualmente de ser curioso que a consulte se realize no dia em que completam 25 anos da queda do muro de Berlim e que no território catalão se encontrem como observadores, representantes de diversos movimentos autonomistas de outros Estados europeus. Da minha parte, apenas me apetece dizer: visca Catalunya.



Observatórios

Também da Cristina, recebi este outro mail. É caso para dizer: muito se observa neste país.

Depois das Fundações, tínhamos esquecido os Observatórios...

1) Observatório dos medicamentos e dos produtos da saúde
2) Observatório nacional de saúde
3) Observatório português dos sistemas de saúde
4) Observatório da doença e morbilidade (...se só para a saúde são 3, para a doença 1 é pouco!!!)
5) Observatório vida
6) Observatório do ordenamento do território
7) Observatório do comércio
8) Observatório da imigração
9) Observatório para os assuntos da família
10) Observatório permanente da juventude

11) Observatório nacional da droga e toxicodependência
12) Observatório europeu da droga e toxicodependência
13) Observatório geopolítico das drogas (...mais 3 !!!)
14) Observatório do ambiente
15) Observatório das ciências e tecnologias

16) Observatório do turismo
17) Observatório para a igualdade de oportunidades
18) Observatório da imprensa
19) Observatório das ciências e do ensino superior
20) Observatório dos estudantes do ensino superior
21) Observatório da comunicação
22) Observatório das actividades culturais
23) Observatório local da Guarda (o quê, só da Guarda? E as outras cidades? Não há direito...)
24) Observatório de inserção profissional
25) Observatório do emprego e formação profissional (...???)

26) Observatório nacional dos recursos humanos
27) Observatório regional de Leiria (...o que é que esta gente fará ??)
28) Observatório sub-regional da Batalha (...deve observar o que o de Leiria deveria fazer ??)
29) Observatório permanente do ensino secundário
30) Observatório permanente da justiça

31) Observatório estatístico de Oeiras (...deve ser para observar o SATU !!!)
32) Observatório da criação de empresas
33) Observatório do emprego em Portugal (...este é mesmo brincadeira !!!)
34) Observatório português para o desemprego (...este deve ser para "espiar" o anterior !!!)
35) Observatório Mcom
36) Observatório têxtil
37) Observatório da neologia do português (...importante para os acordos "Brasilaicos-Portuenses" e mudar a Estória deste Brasilogal !!!)
38) Observatório de segurança
39) Observatório do desenvolvimento do Alentejo (...este deve ser para criar o tal deserto do Sr. "jamé" !!!)
40) Observatório de cheias (....lol...lol...)

41) Observatório das secas (....boa. Este trabalha em alternância com o anterior)
42) Observatório da sociedade de informação
43) Observatório da inovação e conhecimento
44) Observatório da qualidade dos serviços de informação e conhecimento (...mais 3 !!!)
45) Observatório das regiões em reestruturação
46) Observatório das artes e tradições
47) Observatório de festas e património
48) Observatório dos apoios educativos
49) Observatório da globalização
50) Observatório do endividamento dos consumidores (...serão da DECO ??)

51) Observatório do sul Europeu
52) Observatório europeu das relações profissionais
53) Observatório transfronteiriço Espanha-Portugal (...o que é estes fazem ???)
54) Observatório europeu do racismo e xenofobia
55) Observatório para as crenças religiosas (...gerido pelo Patriarcado com dinheiros públicos ???)
56) Observatório dos territórios rurais
57) Observatório dos mercados agrícolas
58) Observatório dos mercados rurais (...espectacular)
59) Observatório virtual da astrofísica
60) Observatório nacional dos sistemas multimunicipais e municipais (...valha-nos a santa Virgem !!!)

61) Observatório da segurança rodoviária
62) Observatório das prisões portuguesas
63) Observatório nacional das diabetes
64) Observatório de políticas de educação e de contextos educativos
65) Observatório ibérico do acompanhamento do problema da degradação dos povoamentos de sobreiro e azinheira (lol...lol...)
66) Observatório estatístico
67) Observatório dos tarifários e das telecomunicações (...este não existe !!! é mesmo tacho !!!)
68) Observatório da natureza
69) Observatório da qualidade (....de quê??)
70) Observatório quantidade (....este deve observar a corrupção descarada)

71) Observatório da literatura e da literacia
72) Observatório nacional para o analfabetismo e iliteracia
73) Observatório da inteligência económica (eh! eh!! eh!! Ao estado a que chegámos onde está esta inteligência?)
74) Observatório para a integração de pessoas com deficiência
75) Observatório da competitividade e qualidade de vida
76) Observatório nacional das profissões de desporto
77) Observatório das ciências do 1º ciclo
78) Observatório das ciências do 2º ciclo (...será que a Troika mandou fechar os do 3º, 4º e 5º ciclos?)
79) Observatório nacional da dança
80) Observatório da língua portuguesa

81) Observatório de entradas na vida activa
82) Observatório europeu do sul
83) Observatório de biologia e sociedade
84) Observatório sobre o racismo e intolerância
85) Observatório permanente das organizações escolares
86) Observatório médico
87) Observatório solar e heliosférico
88) Observatório do sistema de aviação civil (...o que é este gente fará ??)
89) Observatório da cidadania
90) Observatório da segurança nas profissões

91) Observatório da comunicação local (...e estes ???)
92) Observatório jornalismo electrónico e multimédia
93) Observatório urbano do eixo atlântico (...minha Nossa Senhora !!!)
94) Observatório robótico
95) Observatório permanente da segurança do Porto (...e se em cada cidade fosse criado um ?!)
96) Observatório do fogo (...que raio de observação !!)
97) Observatório da comunicação (Obercom)
98) Observatório da qualidade do ar (...o Instituto de Meteo e Geofisica não faz já isto ???)
99) Observatório do centro de pensamento de política internacional
100) Observatório ambiental de teledetecção atmosférica e comunicações aeroespaciais (...este é bom !!! com o nosso desenvolvimento aero-espacial !!!)

101) Observatório europeu das PME
102) Observatório da restauração
103) Observatório de Timor-Leste
104) Observatório de reumatologia
105) Observatório da censura
106) Observatório do design
107) Observatório da economia mundial
108) Observatório do mercado de arroz
109) Observatório da DGV
110) Observatório de neologismos do português europeu

111) Observatório para a educação sexual
112) Observatório para a reabilitação urbana
113) Observatório para a gestão de áreas protegidas
114) Observatório europeu da sismologia (...o Instituto de Meteo e Geofísica não faz isto também ???)
115) Observatório nacional das doenças reumáticas
116) Observatório da caça
117) Observatório da habitação
118) Observatório Alzheimer
119) Observatório magnético de Coimbra

Perguntas:
- Quem criou tudo isto???
- O que é que toda esta gente observa?
- Que utilidade têm para a sociedade?
- E vivem à conta de quem?


Uma grande lição

Da minha amiga Cristina Cosme recebi há dias um mail com esta parábola moderna que não resisto a publicar... Como o texto veio com algumas palavras em acordês e como neste blogue o Aborto está proibido de entrar, lá tive de as escrever em bom Português.


 
Há uns anos alguns ladrões entraram num banco numa pequena cidade. Um deles gritou: "Não se mexam! O dinheiro pertence ao banco mas as vidas são vossas". Imediatamente todas as pessoas deitaram-se no chão em silêncio e sem pânico.
LIÇÃO 1: Este é um exemplo de como uma frase dita correctamente e na altura certa pode fazer toda a gente mudar a sua visão do mundo.

Uma das mulheres estava deitada no chão de uma maneira provocante. Um dos assaltantes aproximou-se dela e disse: "Minha senhora, isto é um roubo e não uma violação. Por favor, procure agir em conformidade. "
LIÇÃO 2: Este é um exemplo de que comportar-se de uma maneira profissional é concentrar-se apenas no objectivo.

No decorrer do assalto, o ladrão mais jovem (que tinha um curso superior) disse para o assaltante mais velho (que tinha apenas o ensino secundário completo): "Olha lá, se calhar devíamos contar quanto é que vai render o assalto, não achas?". O homem mais velho respondeu: "Não sejas estúpido! É uma data de dinheiro e por isso vamos esperar o Telejornal para descobrir exactamente quanto dinheiro conseguimos roubar".
LIÇÃO 3: Este é um exemplo de como a experiência de vida é mais importante do que uma educação superior.

Após o assalto, o gerente do banco disse ao seu caixa: "Vamos chamar a polícia e dizer-lhe o montante que foi roubado". "Espere", disse o caixa "antes de fazermos isso vamos juntar os 2 milhões de € que nós tirámos há alguns meses e dizemos que também esse valor foi roubado no assalto de hoje”.
LIÇÃO 4: Este é um exemplo de como se deve tirar proveito de uma oportunidade que surja.

No dia seguinte foi relatado nas notícias que o banco tinha sido roubado em 3 milhões de €. Os ladrões contaram o dinheiro mas encontraram apenas 1 milhão. Um deles começou a resmungar: "Nós arriscámos as nossas vidas por 1 milhão de € enquanto a administração do banco rouba 2 milhões sem pestanejar e sem correr riscos? Talvez o melhor seja aprender a trabalhar dentro do sistema bancário em vez de ser um simples ladrão".
LIÇÃO 5: Este é um exemplo de como o conhecimento pode ser mais útil do que o poder.

Moral da história:
Dá uma arma a alguém e ele pode roubar um banco. Dá um banco a alguém e ele pode roubar toda a gente.



domingo, 26 de outubro de 2014

Momentos diários

Por razões diversas, decorreu quase um mês sem “passar cartão” aos meus blogues. Às vezes dá-me a preguiça. Outras é a musa que adormece e para acordar é um bico-de-obra. Desta vez, foi um pouco de tudo. Acresce que tenho estado com alguns trabalhos de tradução entre mãos, que é preciso despachar e chegado ao fim do dia, a vontade é mandar tudo às malvas com a promessa de que “amanhã será”. E o amanhã acaba por não chegar.

Ainda continuo com algum trabalho – estou a terminar a tradução de um livro e já está outra na calha, a musa continua meio adormecida, a paciência e a vontade não são muitas, mas resolvi aproveitar uns momentos de relaxe e decidi pôr cobro a esta interrupção.

Hoje é domingo e, ainda por cima, véspera do aniversário da minha codé que resolveu convidar algumas amigas e amigos para uma festinha organizada em casa da mãe de uma outra que se disponibilizou para receber tantos convivas. Uma das razões de não ser cá em casa é porque a nossa sala de estar ainda não está totalmente mobilada. Sentado no meu escritório, diante do computador, tentarei retomar o fio à meada perdido nos meandros do pai Cronos…

Hoje é domingo e como habitualmente (embora na semana passada tenha feito gazeta) fui ao culto matutino. Pregou o meu amigo Samuel Antunes. E como sempre sucede não me limito a ouvir. No meu íntimo procuro interagir com o que ouço ou se passa à minha volta e levanto interrogações e esboço intervenções (nunca concretizadas) ou assaltam-me ideias a explorar num futuro próximo, tudo numa dialéctica constante à procura de um rumo que norteie não apenas as minhas reflexões, mas principalmente a minha praxis. E hoje não foi excepção. E antes que a memória falhasse e toda essa dialéctica se desvanecesse num cosmos onírico qualquer, fui rabiscando numa folha de papel as ideias que me iam surgindo. A intenção, claro, será desenvolvê-las uma a uma. Mas das intenções ao acto vai uma grande distância e a sua concretização é coisa que não garanto. Tentarei, no mínimo, que não se fiquem apenas pela enumeração numa folha destinada ao refugo.

E enumero as ideias que me foram surgindo desta dialéctica atrás referida:

Enviar para a revista “Mulher Criativa” a minha reflexão “Os Cem Degraus”, respondendo assim a um pedido de colaboração feito há tempos pela minha boa amiga Bertina Tomé, a directora da revista.

Porque vou à igreja? Esta fora a pergunta que me assaltara enquanto hoje me preparava para me dirigir ao culto. Imaginei algumas razões e enquanto a pregação decorria ela assaltou-me de novo.

Um dos episódios neotestamentários de que mais gosto é o da pecadora ungindo os pés de Jesus. Há alguns anos preguei sobre o assunto e há pouco tempo a Cassiana pediu-me alguns esclarecimentos sobre o episódio. Mas nunca escrevi nada sobre o assunto. E se pegasse na caneta?

A dada altura, o Samuel falou de conhecimento, de conhecer. De imediato ocorreu-me a etimologia da palavra – cognoscere. Não seria interessante, pensei, elaborar sobre o assunto?

O Samuel, a dada altura, abordou uma questão importante acerca da quantidade de informação a que hoje podemos ter acesso. E mencionou o Google. De facto, podemos dizer que tal como houve um tempo a.C. (antes de Cristo), hoje podemos falar de um tempo a.G. (antes de Google). E a informação não tenderá a transformar-se em in(negação)+formação?

Há 15 dias, o pregador foi o brasileiro Paulo Júnior, no seu estilo próprio de desconstruir um discurso eclesiológico a que nos habituámos e que nos tem condicionado. Colocou em oposição a crença e a fé. E hoje foi feita referência a essa antinomia. E como gosto de brincar com as palavras, opus crença a querença. E a querença faz lembrar as lides tauromáquicas.

Como digo atrás, não sei se estas ideias ficarão apenas pela sua enumeração. Se me abalançar a desenvolvê-las e a publicá-las, virei aqui colocar o respectivo link de acesso. Mas uma coisa certamente continuarei a fazer: a interagir dialecticamente no meu íntimo com o que vou ouvindo sempre que alguém utilizar o púlpito.




segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A armadilha

Na semana passada, Passos Coelho foi explicar-se perante os parlamentares a respeito das acusações de que é alvo em relação ao caso Tecnoforma, esclarecendo (ou tentando, pelo menos) a sua relação com a empresa. Que não recebeu qualquer ordenado, que as despesas tidas foram com deslocações, que as apresentou às empresa que as pagou, que isto, que aquilo. Antes disso umas partes meio gagas, também que isto, que aquilo. No Parlamento parece que se terá embrulhado com a questão da exclusividade e dos subsídios de reintegração (ai, os subsídios, tão bom!) e – como seria de esperar – a oposição (ou, melhor, as oposições) para além de lhe corrigir alguma incorrecção, não ficou contente com as explicações e exigiu mais, nomeadamente o levantamento do sigilo bancário.
 
Bom, tudo isto cheira a déjà vu, a uma remake de filmes anteriores. Assim de repente, recordo-me dos casos Sócrates (e o seu diploma obtido no género da Farinha Amparo, no dizer dos adversários) e Durão Barroso porque a sua licenciatura era coxa por ter umas passagens administrativas no currículo. No segundo caso, o articuleiro que o acusou não fez bem o trabalho de casa e por ignorância ou sandice não teve presente que em 1974, no rescaldo do golpe abriliano, toda a minha gente na Universidade foi corrida a passagens administrativas, com uns aptos escalonados à mistura. Há gente parva, que se há-de fazer? Durão safou-se sem se chamuscar porque a História se encarregou de o justificar. Já Sócrates percorreu uma via dolorosa, com ida à televisão a mostrar diplomas e justificativos de que o seu título académico era legítimo e genuíno. Igual sorte não teve Miguel Relvas que, resolvido o inquérito à sua licenciatura meteórica, não aguentou o embate de ter sido despromovido e resignou ao cargo de mentor governativo. Da minha parte tomei a decisão de não tratar nenhum governo por qualquer título académico. Não me mostraram o diploma e, além disso, quando nasceram, tinham tantos títulos académicos como o Quasimodo do Notre Dame de Paris de Victor Hugo.

Embora diferentes, todos estes casos têm um elo comum, resultante de uma característica deste povo jardineiro do jardim à beira-mar plantado. Refiro-me à má-língua, à inveja, à difamação pela calada, ao prazer mórbido de “chagar” as autoridades. Bem sei que à mulher de César não basta ser honesta – tem de parecê-lo, assumindo aqui que a “mulher de César” está por figuras públicas, nomeadamente as da governação. E talvez por um recalcamento masoquista, os visados caem sempre na armadilha que as línguas viperinas lhes armam. É evidente que quem acusa deve fazê-lo com provas e sempre de cara descoberta e não acobertado covardemente atrás do anonimato pessoal ou do anonimato do “diz-se que se diz”. Também é verdade que uma figura pública, ao ser acusada deve reagir de imediato, quanto mais não seja com um comunicado a informar que em tal e tal tempo prestará os esclarecimentos devidos. E havendo uma acusação, parece-me que a melhor solução é encaminhar o caso para os tribunais ou, neste caso, para a PGR. Ela que investigue, oferecendo-lhe o acusado toda a colaboração necessária. Se vivemos num Estado de direito, parece-me ser o caminho óbvio. Com a vantagem de retirar ao acusado o ónus de se defender em praça pública e abrindo ao acusador o caminho de um processo por difamação, caso a acusação seja infundada. Muito mais num governante com a importância de um PM ou de um PR cuja atenção e forças devem estar centradas nas tarefas de governação e não na de lavandaria. Há ratos que acabam por ser mais espertos que muitos humanos – comem o isco e não se deixam apanhar na ratoeira.


Os campeões

Portugal sagrou-se campeão europeu de ténis de mesa. Parabéns aos campeões. Já vinham ameaçando desde pelo menos os Jogos Olímpicos e é sempre com satisfação que damos conta destes sucessos. Ainda por cima em modalidades que não têm a mesma divulgação e destaque na imprensa, como o futebol que, até ver, só tem dado promessas e reforçado a tríade salazarista “efista” (futebol, fado e Fátima). Mais contentamento nos deixa por a vitória final ter sido obtida frente à poderosa Alemanha, crónica vencedora europeia da modalidade. Todas as pequenas vitórias do diminuto David lusitano contra os Golias deste mundo deixam o tuga com um sorriso rasgado.

Recordo que no meu tempo de estudante liceal nos idos das décadas de 50-60 o pingue-pongue, como lhe chamávamos, era um desporto dos mais disputados nos intervalos das aulas, principalmente entre os que não tinham cabidela nas equipas de futebol ou andebol dos campeonatos promovidos pela então Mocidade Portuguesa. Até se faziam campeonatos ad hoc.



O mesmismo

Como seria de esperar, António Costa ganhou as primárias para a escolha do candidato do PS a Primeiro-ministro. Ao fim de uma campanha que não deixou saudades pelo deserto de ideias apresentado por cada candidato e depois de um autêntico lavar de roupa suja, o processo levou imenso tempo, desgastando o crédito do PS e dando algum alento a Passos Coelho e ao seu séquito de cortesãos. Penso que todo este espectáculo foi desnecessário e que haveria outras formas estatutárias para escolher o sucessor (ou continuador) de António José Seguro. Costa tinha toda a legitimidade de desejar o poder e de o disputar com quer que seja, até com o Secretário-geral em exercício, mas parece-me que a forma adoptada para o conseguir não foi a mais recomendada. E por mais que embeleze o seu discurso, fica sempre a ideia de que se aproveitou do trabalho realizado por Seguro, capitalizando agora em seu favor a estabilidade que aquele conseguiu, no seguimento do consulado de Sócrates. Com efeito, Seguro “aguentou o barco” e conseguiu que o PS, ao vencer as diversas eleições do seu mandato, não entrasse em colapso. E isto apesar da pesada herança recebida, traduzida em anos de austeridade com a aplicação do programa da Troika e de que, por ter sido apadrinhada pelo PS, Seguro não poderia abjurar, mesmo não concordando com os seus termos. Passado o tempo de aplicação do programa, com o descalabro anunciado e esperado do consulado de Passos Coelho, Costa, que sempre ambicionou a cadeira do poder, não poderia ter escolhido melhor momento para desafiar quem, de facto, não conseguia descolar significativamente dos liberais PSDistas, mesmo mantendo-se à sua frente.

E embora ganhando Costa por margem folgada, abriram-se feridas e divisões que apenas o “rebuçado” do poder distribuído com “magnanimidade” por alguns dos vencidos poderá colar os cacos partidários.

Pessoalmente, não espero grandes voos de Costa. Ele representa mais do mesmo e a sua pessoa está ligada aos mesmos do costume. É, o que poderemos dizer, o candidato do mesmismo. Tem virtudes, sem dúvida, é combativo, aguerrido, tem um discurso fácil (embora o tom de voz seja um pouco irritante) e fala uma linguagem que, sendo populista, vem tão bem maquilhada que acabamos por não perceber que o é. Na campanha, imitando Seguro, não apresentou uma única ideia nem referiu algum programa que galvanizasse a nação, ficando-se por generalidade cativantes que qualquer Zé da Esquina não teria dificuldade em formular. E na noite da vitória, ao contrário de Seguro, nunca mencionou o adversário o que, para quem critica ataques pessoais, não fica bem e é mau sinal. Para vingativo, já bem bastam algumas intervenções do actual inquilino de Belém. Seguro pecou porque, aparecendo com uma aura de alguém que traz um discurso novo (de facto, procurou apresentar-se como alguém disposto a praticar um novo tipo de política), não conseguiu capitalizar em seu favor algum descontentamento com a governação coelhista e foi um pouco macio nos debates parlamentares. Nesse aspecto, Costa dá de facto outras garantias. Mas chegará?

Embora Costa seja representante do mesmismo, espero que, chegando a Primeiro-ministro, consiga fazer melhor que o aplicador da austeridade, que conseguiu o milagre de transformar uma crise financeira numa crise económica. E que, de arrasto, leve o país a garantir a sobrevivência dos nossos descendentes, deixando-lhes se não um país mais próspero e mais justo, pelo menos as raízes germinadas desse país com que tanto sonhamos. Seria com todo o prazer que viria à praça dizer: enganei-me a respeito de Costa. Daqui a 4-5 anos (ou talvez antes) saberemos se os que votaram em Costa não lamentarão não o terem escrutinado mais. Alguém viu por aí o D. Sebastião?


quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A lavandaria


Os Antónios travaram ontem o último debate televisivo. O resultado seria o de esperar – uma lavagem de roupa suja. Bem poderiam ter passado cá por casa e feito o favor de levarem a minha roupa. Só lavagem. Eu encarregar-me-ia de a engomar e arrumar.

Quem deve ter esfregado as mãos de contente com este triste espectáculo foi certamente Passos Coelho e seus aliados. E arriscamo-nos a levar em cima com mais 4 anos de cunicultura e de irrevogabilidades. É evidente que Costa tem toda a legitimidade para aspirar ao lugar de Secretário-geral do PS, mas parece-me que teria sido melhor outro caminho para lá chegar por vias sufragadas pelos estatutos partidários. A solução escolhida apenas enfraquece o partido da rosa e abre brechas e feridas que dificilmente ou nunca sararão. Desta vez, a rosa não foi flor – foram acúleos. E dos bens aguçados.

Os debates foram um deserto em termos de propostas programáticas concretas. E chega-se à triste conclusão, assumida por António José Seguro, de que programaticamente nada os distingue. Até a cor da gravata era a mesma. Afinal ambos têm um traço comum – a sede de poder. A menos que se queira reduzir a diferença entre ambos ao pormenor da boniteza. Quem gosta de um tom de pele bronzeado e sonha com outras características fisiológicas dos morenos, escolha Costa. Quem aprecia o ar seráfico e angelical de menino do coro de pele lisa e lustrosa, vá pelo Seguro. Mal vamos nós quando a política se resume à epiderme das coisas.



segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Quando chove é isto

Hoje choveu a bom chover. Lisboa transformou-se numa nova Veneza. As ruas transformaram-se em canais. Em coisa de minutos, as nuvens viraram gigantescos elefantes, despejando sobre a urbe trombas e trombas de água. Mas parece que tal como rapidamente inundaram alegremente as ruas, também com celeridade as abandonaram, caminho do Tejo. Calculem-se os estragos e transtornos. E como em geral sucede, de novo assistimos à repetição da síndroma de Adão: não fui eu, foi ela, não fui eu, diz ela, foi a serpente… Que é como quem diz: preparada a cidade até estava, dizem os edis, mas o IPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera, sucedâneo do Instituto Meteorológico – esta mania de “complificar” as designações…” não nos alertou. Que é como quem diz: a culpa é sempre dos outros. E, como diz o povo, quem se lixa é o mexilhão, neste caso os munícipes e os transeuntes. Por cá (por Loures) não se sentiu a chuva com tanta intensidade. E vem-me à memória a tragédia que foi 25 de Novembro de 1967 (http://w3.ualg.pt/~jdias/GEOLAMB/GAn_Casos/Lisboa1967/GA35sup1967_CheiasLisboa.html). Na época, por onde andei também não pareceu  que tivessem chovido tantos estragos. O mesmo não disseram os afectados de então. Alguém empresta-me um barco?



A festa





Ontem foi o dia em que me tornei septuagenário. E as minhas filhas organizaram uma festa com algumas surpresas. Parafraseando Chico Buarque, “foi bonita a festa, pá”. Por um dia, apesar da chuva, o mundo parou. Valeu a pena. Num outro blogue, vou publicar a reportagem do evento.


sábado, 20 de setembro de 2014

O senhor que se segue

O referendo da Escócia deu a vitória ao “Não”. Os independentistas perderam, os unionistas ganharam. Aceitando a derrota, o chefe do governo escocês apresentou a demissão (http://www.sol.pt/noticia/115320). É assim a democracia. Venceu a democracia. E em democracia (na verdadeira), as responsabilidades pelos erros selam-se e traduzem-se por demissões. Não sei se foi a decisão acertada ou não. Tal como ignoro se tudo ficará na mesma, na Escócia e na Europa. Como também não sei qual seria o panorama futuro se o “Sim” tivesse ganho. A minha bola de cristal fez greve. Sei (ou prevejo, que vai dar no mesmo) que a causa independentista tanto na Escócia, como noutras regiões europeias (uma trintena, segundo cálculos de alguns) não vai desarmar e a porta aberta pelos Escoceses irá provavelmente manter-se aberta por muito tempo, a menos que os velhos políticos e governantes europeus mudem a agulha do seu comboio governativo. Na vizinha Espanha, perfila-se para Novembro uma consulta junto dos Catalães para saber se eles apoiam uma Catalunha independente. Não me espantaria se em Moncloa os partidos do arco da governação seguissem o exemplo dos seus pares britânicos e prometessem, sob garantia jurada, ainda mais poderes autonómicos para as regiões e comunidades históricas espanholas. Talvez os meus netos cheguem a ver uma Espanha federal e os meus bisnetos uma Ibéria federalizada. É que Espanha é um país de várias nações. E a Espanha apropriou-se de dois termos (Hispânia e Ibéria) de que todos os Ibéricos (Portugueses inclusive) são legítimos herdeiros. Cá pelo burgo, não me espantaria que J. A. Jardim, levado pelo entusiasmo, exigisse também uma independência para o seu arquipélago. Pessoalmente nada tenho contra essa pretensão – numa democracia (numa democracia a sério), a voz do povo deve ser ouvida. Pessoalmente não sei se a Madeira-nação seria viável (a minha bola de cristal continua em greve). Mas pessoalmente, também, não me espantaria que, se não desse certo, algum dos luminares madeirenses pedisse à República Saaraui que aceitasse as ilhas como uma região autónoma local…


As desculpas

Assistimos nestes dias a algo de inusitado e a que não estávamos habituados. Dois ministros – sim, dois – apresentaram desculpas públicas por erros ocorridos no seu pelouro. No caso, uma ministra e um ministro, a da Justiça e o da Educação, de seu nome respectivo, Paula (Teixeira da Cruz) e (Nuno) Crato, por essa ordem de apresentação das ditas desculpas. Ambos até estão bem indicados para as respectivas pastas, uma vez que são da área. Ela é advogada – com orgulho, segundo palavras da própria – enquanto ele é professor de matemática. Neste último a coisa até não deixa de ter a sua piada porque o pedido de desculpa resulta da confusão e consequente injustiça na colocação de professores, com alguns mais modernos a ultrapassar colegas mais antigos, tudo resultante de uma fórmula – pasme-se – matemática que, segundo alguns entendidos, está mal formulada ou mal aplicada. E isso apesar de garantir que o ano lectivo se iniciara com regularidade e que os erros – se houver, frisou ele – seriam corrigidos. Quanto à ministra, se a justiça já era alvo de muitas críticas por causa de uma lentidão que parece endémica, com a decisão de reformular o mapa judiciário e de espartilhar a justiça a uma plataforma informática – o Citius – ela ficou bloqueada, pelo menos parcialmente. E isso apesar de garantir que estava tudo a decorrer com toda a normalidade (mesmo com alguns tribunais a funcionarem em contentores ou, como se diz nesta terminologia política, em módulos habitacionais). Caso para dizer que a justiça ficou em estado de… Citius. Pelo menos num dos ministérios – no da educação – já se determinou um bode expiatório e uma cabeça já rolou – a do Director-geral da Administração Escolar. Como a justiça é mais lenta, não admira que o
Director-geral-de-qualquer-departamento-da-justiça leve algum tempo a apresentar a sua demissão. Só que em política, quando se assumem erros políticos (e de governação), tal como os ditos se pronunciaram – manda a ética e a vergonha que os que falharam assumam mesmo os erros, ou seja, apresentem a sua demissão. Mas como Portugal é um país de originalidades, no pasa nada.

Citius. Ministra da Justiça pede desculpa mas desmente caos
Paula Teixeira da Cruz garantiu que vai trabalhar para apurar responsabilidades e que dará explicações no Parlamento.
A ministra da Justiça pediu desculpa sobre os problemas na plataforma Citius, mas desmentiu uma situação de caos.
"Não tem havido caos, houve transtornos e problemas, com certeza. E esses estou aqui a assumir e peço, em nome do Ministério da Justiça, desculpa. Pelos transtornos e pelas dificuldades, não por um caos que não chegou a haver", disse Paula Teixeira da Cruz aos jornalistas.
A ministra admitiu, no entanto, a existência de muitos problemas. Disse mesmo que, se soubesse que teriam esta dimensão, não se importava de ter adiado por várias semanas a entrada em funcionamento da reforma.
Questionada sobre para quando o restabelecimento da normalidade da plataforma informática, a ministra não se comprometeu com qualquer data, afirmando, contudo, esperar que os problemas sejam resolvidos o mais breve possível.
Esclareceu, contudo, que sempre lhe foi dito que o sistema funcionaria na data prevista. Ao lado da ministra, estava o director do Instituto de Gestão Financeira, que interrompeu Paula Teixeira da Cruz para assumir ser ele o responsável pelas informações e garantias que foram sendo dadas.
A ministra prometeu ainda dar explicações no Parlamento e apurar reponsabilidades. "Uma questão quero aqui deixar muito clara: não deixarei de apurar a responsabilidade que ao caso couberem. Como sei que o Instituto de Gestão Financeira não deixará de querer ele próprio e, por si próprio, e pela qualidade a que nos habituou, de querer apurar responsabilidades. Até ao limite", acrescentou.
Sobre uma possível demissão, Paula Teixeira da Cruz esclareceu que "em tempos de dificuldades" só pensa em resolver os problemas, "não em ir embora".


Crato pede desculpa aos professores e aceita demissão de director-geral
Depois de mais de quatro dias de protestos, o ministro da Educação assumiu o erro e prometeu refazer os cálculos e corrigir a ordem de colocação dos professores. O director-geral da Administração Escolar demitiu-se.
O ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, assumiu na tarde desta quinta-feira que “houve uma incongruência”, “na harmonização da fórmula” com base na qual foram ordenados milhares de professores sem vínculo, que começaram a ser contratados pelas escolas na segunda-feira passada. “Peço desculpa aos pais, aos professores e ao país”, disse, na Assembleia da República, ao assumir o erro. Ao fim da tarde, soube-se que aceitou a demissão do director-geral da Administração Escolar, Mário Agostinho Pereira.
Em causa está a fórmula matemática utilizada pelo MEC para criar as várias listas de contratação, nas quais milhares de docentes estão ordenados por ordem decrescente. Nos restantes concursos a lista está ordenada com base na graduação profissional. Neste, designado por Bolsa de Contratação de Escola (BCE), a legislação determina que a classificação é feita com base na graduação profissional (com a ponderação de 50%) e na avaliação curricular.


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Os candidatos

Refiro-me aos candidatos a candidato, aos dois Antónios. Confesso que acho uma originalidade da política à portuguesa o facto de um deles (o Costa) ter o seu emprego e andar a fazer campanha quando devia estar pelo menos à janela do município (imagino o que diria o meu patrão – quando o tive – se eu aproveitasse as horas que deveria dedicar ao trabalho para andar a fazer campanha para candidato a candidato… A menos que o Costa tenha suspendido as suas funções camarárias.) Como devemos estar informados sobre o que caracteriza o programa e as ideias de cada e após uma porfiada pesquisa, eis o que descobri sobre o que cada um pensa:


O referendo

Aguarda-se com alguma expectativa o resultado do referendo na Escócia sobre a independência do território. Parece que as coisas estão muito renhidas, com uma ligeira subida do sim nas últimas horas o que, apesar de tudo, ainda o coloca umas décimas abaixo do “não”. O governo de Cameron e todos os partidos já garantiram que se o “não” ganhar darão mais poderes à Escócia. A independência da Escócia será boa? Será má? O futuro o dirá, se esse for o resultado. Uma coisa será certa: o mapa do RU em particular e da Europa não será o mesmo. E pelo menos mais dois países (estes não-europeus, a Austrália e a Nova Zelândia) terão de alterar a sua bandeira. E os países europeus compostos por várias nações (como é o caso da Espanha) que se cuidem. A tentação de seguir o exemplo escocês é grande e em breve poderemos ter uma onda de referendos à independência. Não me espantaria que o Jardim da Madeira tentasse sorte idêntica. Para quem já falou em mais do que uma vez na necessidade não só de alargar a autonomia madeirense, mas de se ter a coragem de subir outro patamar (entenda-se, uma espécie de federalização de Portugal), essa é uma hipótese a não rejeitar. Amanhã será o primeiro dia de uma nova Europa? Faltam poucas horas para o sabermos.


terça-feira, 16 de setembro de 2014

O balão

Enquanto pela manhã saboreava um café, liguei a televisão. Como não tinha em vista nenhum programa especial o televisor sintonizou a última estação visionada antes de o ter desligado na véspera. Era a TVI, como poderia ter sido qualquer outra estação. Embora o meu interesse fosse o café e não tanto o programa que estava a ser transmitido, não pude deixar de ouvir os intervenientes e de perceber do que se tratava. Àquela hora, só podia ser o Goucha mais a sua conversa fiada para entreter quem não tem mais nada para fazer e agradar aos que não gostam de pôr os neurónios a funcionar. “Onde fui calhar”, pensei eu, já prestes a mudar de canal. Mas antes de o fazer, ainda deu para ver que junto do Goucha estava essa figura da intelectualidade portuguesa, a inefável Lili Caneças e um outro entertainer de lacinho, cujo nome desconheço. E de que falavam eles?, perguntar-me-ão. Daquilo em que a veneranda dona de vestidos tigresse é perita, da socialite. Ou seja, de vacuidades. Não tenho nada contra as opções de cada um. Afinal, devemos comer aquilo de que gostamos. Mas, convenhamos, que tal como há comidas que são um veneno ou um lixo para o organismo, também há programas e actividades que espremidos, nem para o caixote do lixo servem. É o caso. Mas mais do que o espanto por se gastar tempo com “conversas de chacha”, a falar do que não vale uma lesma cozida, é o ar de importância com que as ditas criaturas revestiam as suas considerações. A única imagem que me ocorreu foi a de um balão: cheio de ar e que uma vez rebentado ou esvaziado pouca utilidade tem. Felizmente tinha o comando à mão e antes de acabar de sorver o meu café, mudei para outro canal.




sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O Dilema

O Expresso (1) interroga-se se devemos deixar de mostrar as imagens que os jihadistas divulgam. Há respostas para todos os gostos. Uns dizem que a informação deve ser livre e, portanto, sem entraves, outros que deve haver contenção na divulgação de imagens de violência gratuita ou não, outros que isto, outras que aqueloutro. Não há dúvida de que não é por escondermos a cabeça na areia como a avestruz que o mal desaparece e que uma imagem vale mais que mil palavras. Mas talvez precisamente por sabermos tudo isso é que convinha não esquecer um outro parâmetro importante neste século conturbado – os terroristas (sejam eles quais forem) estão envolvidos numa guerra, logo são inimigos daqueles contra quem a sua acção é dirigida. E também sabemos que a guerra se trava em diversas frentes não sendo menor a das imagens. Então aqui tem de entrar a estratégia, sem esquecer que em tempo de guerra há certos direitos tidos como inalienáveis (entre eles o da informação) que, por motivos de segurança, são suspensos temporariamente. É a versão moderna do dilema do prisioneiro.



O Marciano

Leio no jornal (1) que o Instituto de Emprego mandou mulheres para empresa que as despediu. A mim parece-me natural que o Instituto de Emprego resolva o mais rapidamente o drama laboral dos desempregados e lhes arranje colocação mesmo noutra área de actividade. Também me parece natural que uma empresa que necessite de empregados recorra aos serviços do IEFP. Pelo menos é o que a lógica ordena. Assim, se a empresa em causa precisava de empregados, é natural que procedesse desse modo. Agora, o que me parece bizarro (e já estou a ser condescendente) é que tenha despedido estas trabalhadoras para as voltar a contratar via IEFP. A menos que… Bom, parece que, em certos casos, a lei permite a contratação de empregados com dispensa do pagamento, durante um certo período de tempo, das respectivas contribuições para a Segurança Social. A menos que isto seja coisa de marcianos…



terça-feira, 2 de setembro de 2014

O Mapa e a Ministra

A saga do novo mapa judiciário prossegue. Parece que a plataforma informática embora a funcionar melhor que ontem continua com falhas. O telejornal recupera parte da entrevista dada ontem pela ministra à SIC em que ela considera sem razão a acção interposta pela Ordem dos Advogados e lamenta que a sua (dela, ministra) Ordem não tenha apresentado uma proposta alternativa. Não sei se o mapa está correcto ou não, se a reforma se justificava ou não, se está bem ou mal feita. Ignoro também se virá beneficiar os cidadãos e melhorar a prestação da justiça. Sei que quando se mexe numa rotina já estabelecida, há sempre queixas por parte dos afectados que se consideram os mais afectados de todos. Muitas vezes, o tempo acaba por dar razão à alteração da rotina. Outras vezes, as alterações terão de ser reajustadas e ainda outras terão de ser abandonadas. Como não estou por dentro do assunto, não me pronuncio sobre a justeza ou não destas medidas. Há, no entanto, uma dúvida que sempre me assalta nestes momentos. Será que se a ministra fosse oposição e esta reforma fosse levada a cabo por um governo que não fosse da sua cor partidária, ela a aplaudiria como faz agora? E se ela fosse uma mera advogada ou até bastonária da “sua” Ordem, será que viria à praça defender com unhas e dentes as alterações introduzidas? Confesso que não sei. É que os nossos políticos habituaram-nos a ser como o deus Jano – pessoas de duas caras. Na Oposição, como contra-poder, dizem uma coisa, no governo, como poder, dizem outra. Recordo apenas que na antiga Grécia, os actores de teatro desempenhavam os seus papéis com uma máscara. E tinham o nome de υποκριτής que deu em bom Português hipócrita. Ou seja, um belo de um feijão-frade…


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O chorão

Hoje, o vice-presidente dos laranjas, de seu nome Marco António que segundo parece também é ministro de uma pasta cujo nome neste momento se me escapa inaugurou a Universidade de Verão do PSD. Não sei bem o que é isso de Universidade de Verão mas parece coisa importante porque, segundo o noticiário, passarão por lá a dar aulas ou conferências (ou as duas coisas) luminárias de diversos partidos, da extrema-esquerda à esquerda convencional. Só não percebo é porque, sendo uma coisa assim tão importante se pôs com aquele tom de bebé chorão a culpar os outros porque durante estes três anos, o seu partido (ou o governo, não sei bem, porque nestas coisas é difícil destrinçar os dois e saber quem é quem) não fez outra coisa senão remendar (não garanto que tenha sido esse o verbo utilizado) o que os outros estiveram a destruir. Os outros – entenda-se – são os seguidores do pensamento socrático à portuguesa rosa. E continuou naquele tom lamuriento, dizendo-se esperançado que os eleitores lhes darão pelo menos mais quatro anos para prosseguirem o rumo traçado. Lembrei-me logo das minhas filhotas quando ainda eram pequenas e das traquinices que faziam aos bebés chorões que a prima teimava em lhes dar pelos Natais. A menos que, mostrando-se chorão, este Marco António esteja a tentar esconder que, em termos de governação, imita na perfeição o outro (o original, como diria o Mourinho) Marco António. Apenas para relembrar os factos históricos, recorde-se que, desastroso na governação da Itália, Marcus Antonius que se via já sucessor do assassinado Iulius Caesar, viu-se suplantado por um recém-chegado de seu nome Octavianus Augustus. E olhem que a história não costuma perdoar


Os Galarotes

António Costa e António José Seguro lá marcaram as datas para decidirem qual deles irá para o poleiro cantar de galo. Esta pugna faz lembrar um galinheiro cheio de galinhas que lá vão debicando e cacarejando à volta do galo-mor quando às tantas um galo do mesmo galinheiro que aparentemente andava a dormir ou distraído se lembra de que tem um despertador no papo e toca a cantar em dó maior que a música em tom menor é mais para saudosistas e apreciadores do fado faduncho. Só que o galo-mor que sempre cacarejou em fá menor porque é o som que mais se ajusta aos despertadores de campanha não achou muita graça. Claro que não tenho nada contra os galos a não ser quando estou em alguma casa do campo e eles se lembram de dizer que aqui quem canta sou eu, como sucedeu quando passei umas férias no Sabugueiro com a minha falecida. Aí apeteceu-me atirar-lhe com uma sapatilha, que ele cantava mesmo debaixo da minha janela. E lá vamos nós carpindo o nosso fado de ter de aturar mais um António. Porque quer nademos pelo seguro que as águas andam agitadas, quer se imponha o estilo natatório de costas, a verdade é que, mais uma vez, arriscamo-nos a que para a Calçada vá outro António. Mas este país não tem outros nomes que não o de António? Caso para dizer: chamem o António.


A efeméride





Para que a memória não esqueça, hoje é uma efeméride especial. (Aliás, todos os dias são efemérides de qualquer coisa, mais ou menos especiais). Para que a memória não esqueça, faz anos (mais precisamente 75) que as tropas hitlerianas deram início à Segunda Guerra. Cinco anos mais tarde terminaria, com o seu cortejo de mortes e de profundas transformações no panorama mundial.


A carripana

Para quem, como eu, pensava começar bem o dia, as coisas não podiam ser melhor. Logo pela manhã o telefone toca. Era o senhor da oficina mecânica onde na quinta-feira passada deixara o meu carro, um Opel Astra de 2002 para que ele analisasse e visse de que mal a viatura padecia. Depois de me informar que a bomba de água gripara, hoje deu-me a “bela” notícia de que o problema era mais complicado e que o arranjo todo me custaria a módica quantia de 1030 euros mais IVA. Ou seja, coisa para quase 1300 euros. A junta da cabeça do motor estava queimada, mais isto e mais aquilo, os segmentos e as válvulas e não sei que mais. Para começar bem o dia, de facto, não foi mau. Quando me apresentam uma conta choruda – e esta é, face à minha magra pensão – começo logo a fazer cálculos mentais. Lá se vão os 800 e tal euros que vou receber de uma cliente. Filosofando como qualquer bom português, que havemos de fazer? Vão-se os anéis, fiquem os dedos. “Está bem, avance”, foi a resposta. “Ah! E já agora veja também o problema dos «soluços» do carro nas subidas”. “Esteja descansado. Vou ver e debruçar-me sobre o assunto”, tentou ele sossegar-me. Que remédio senão ficar descansado.

Pois… Nestas coisas é melhor não nos preocuparmos muito. A ”almofada” do meu orçamento dá para estes imprevistos e acidentes. E enquanto der, sigamos a reflexão do “tio” Belmiro da Sonae: o dinheiro fez-se para duas coisas – para gastar ou para investir. Vou gastá-lo. Falta-me investi-lo. Também lá chegarei…


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Como te chamas?

1. Na Escritura, o nome é importante porque:
a) revela a pessoa – nós somos um abismo, somos uma incógnita;
b) revela o carácter da pessoa;
c) acaba por ser a própria pessoa.

2. Temos diversos exemplos que ilustram esta verdade:
a) 1 Samuel 25:25 – temos um homem chamado Nabal (=o que é tolo). Foi tolo porque foi egoísta (v. 11)
b) Génesis 41:45 – José foi chamado Zafenate Paneia (=o Salvador do Mundo)
c) Marcos 3:17 – Tiago e João são chamados “filhos do trovão”. Veja-se que em Lucas 9:54, pediram fogo. Há Cristãos que querem o fogo, mas não a misericórdia.

3. Por isso, na Escritura, procurava-se saber o nome do outro:
a) Em Êxodo 3:13, Moisés pergunta a Deus – como te chamas?
b) Em Marcos 5:9, Jesus perguntou aos demónios como se chamavam.

4. Falemos de 3 nomes:
a) José
Em Actos 4:36, José é chamado Barnabé, ou seja, filho da consolação. Na realidade, ele era liberal (Actos 9:26-27), exortava (Actos 11:23), era cheio do Espírito Santo e um homem de bem (Actos 11:24), era digno de confiança (Actos 11:29.30) e inspirava (Actos 11:25-26).
Quando José surgia, todos diziam: Ah! Ali vem o filho da consolação (Barnabé). E quando alguém agia como José, diziam: És como Barnabé (filho da consolação).

b) Judas
Em João 13:28,29 lemos acerca dele.
Podemos ser como Judas: discípulo de Jesus, ter a guarda do tesouro, comia com Jesus, ouvia de Jesus, falava de e com Jesus, levou os outros a pensar que estava a fazer o bem (v. 29).
MAS – ele foi oi traidor.

c) Emanuel
Em Mateus 1:23, lemos que chamá-lo-ão pelo nome de Emanuel = Deus connosco.
O nome de Jesus é nome de salvação (Actos 4:12), nome de poder (Filipenses 2:9-10), é nome de misericórdia (Marcos 10:48).

5. A escolha fica connosco.
Podemos ser como:
Tomé – incrédulos e duvidosos;
Pedro – voluntariosos e apressados;
João – amorosos e interessados
ou como o retrato de Apocalipse 3:1 – ter nome de quem vive e estar morto.

Mas Deus sabe o nosso nome – em Apocalipse 2:17, lemos que recebemos um novo nome.
Qual é o nosso nome?
Por que nome somos conhecidos?
Qual o nome que Deus nos dá?